"A felicidade é uma mentira/ E a mentira é salvação"
Imagine que não exista nenhum paraíso, é fácil tentar, nenhum inferno abaixo de nós. Se não podemos ter certeza de nada, tudo não passa de criação humana, assim como o mito da felicidade e da tristeza. Não significa que não acreditar na felicidade implique na tristeza, até porque seria um grande erro, já que mesmo que existisse somente a tristeza, não seríamos tristes, pois é preciso a felicidade para comparar. É a mesma coisa que nunca ouvirmos axé, assim nunca saberemosque há outras músicas realmente muito boas. A felicidade é um mito a ser alcançado, meramente cultural, característico do ocidente. Por exemplo, no Japão, eles choram quando uma criança nasce, e riem quando uma pessoa morre, é estranho, mas como diria Goethe, "os homens depreciam aquilo que não podem compreender". A busca pela felicidade é usada hoje em dia como marketing, empresas adoram usar slogan do tipo "a hora é agora", o dinheiro não compra tudo, mas você só é feliz se usar MasterCard, tomar Coca-Cola. Você só é feliz se transar todo dia, sair para balada 3 vezes por semana, viajar para Europa no inverno e para Ibiza no verão, ter uma casa em Búzios e um corpo perfeito, estar formado em medicina, ter um carro tunado e um som para demonstrar que foi investido muito dinheiro ali, ter um namorado lindo e inteligente, e um ex que ainda é apaixonado por você, ou mais de um querendo te conhecer, seja o que for, o que importa é demonstrar mais desejo sexual do que realmente tem. Na Pós-Modernidade não adianta você ser feliz, tem que parecer feliz, é como a frase do senador romano Cícero, "a mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta". Você tem que ter fotos no orkut sorrindo, em um grupo de muitos amigos, como se a vida fosse sempre cor de rosa. Volta pra casa, fim da viagem: bem-vindo à vida real... Já perdemos muito tempo brincando de perfeição, esquecemos o que somos: "Simples de Coração". Se acontece qualquer coisa desestabiliza toda essa pseudo-felicidade, porque segundo o pensamento dominante, você deve temer a tristeza, e como diria Renato Russo, "a dor vem do medo de não sentirmos dor". Se não existe felicidade, tão pouco a tristeza, o que conhecemos é o que nos ensinaram, é obra cultural, algo que inventamos para dar sentido a nossas vidas. Sendo assim, porque não inventarmos somente a felicidade dentro de nós? Segundo Nietzche "Se nada é verdadeiro, tudo é permitido". Insistimos em achar que a felicidade está além do nosso corpo, que para sermos felizes precisamos de alguma pessoa, de alguma coisa, de algum dinheiro, no entanto, se pensamos assim, realmente não somos felizes. A felicidade está dentro de nós, a felicidade é um pensamento que diz que você é feliz, uma crença, então, se você se esforçar, pode ser feliz em uma prisão, ou na mais completa liberdade. A ausência de tristeza e de felicidade talvez seja o que Buda chamou de Nirvana, ou não, porém, eu proponho inventarmos nossa própria cultura individual, esquecermos tudo que nos ensinaram, não ficarmos tristes apenas porque algo ruim aconteceu, ou porque algo bom não aconteceu."Hoje acordei mais leve, já vivi tanta coisa, tenho tantas a viver, tô no meio da estrada e nenhuma derrota vai me vencer, hoje eu acordei livre, não devo nada a ninguém, nao há nada que me prenda". Você pode acreditar na felicidade, e correr atrás de seus sonhos, desde que saiba que a felicidade está no caminho e não na chegada, não podemos depender de nada para sermos felizes. "Você talvez diga que sou um sonhador, mas eu não o único. Eu espero que algum dia você junte-se a nós, e o mundo viverá como um único". Nem tudo está perdido, o horóscopo do jornal arriscou 'um belo dia', liguei o rádio na hora certa, era a canção que eu queria, ninguém me ligou enquanto eu dormia, sonhei com meu pai e ele sorria, "veja você... que surpresa... que coisa incrível, descobri que sou feliz"
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