" Queremos simplificar-nos, ou diversificar-nos? Queremos ser mais felizes, ou mais indiferentes à felicidade e à desgraça? Queremos ficar mais satisfeitos conosco, ou mais exigentes e mais impiedosos? Queremos tornar-nos mais amigáveis, mais indulgentes, mais humanos, ou mais desumanos? Queremos ser mais prudentes, ou mais impulsivos? Queremos atingir um fim, ou evitar todos os fins - como, por exemplo, faz o filósofo para o qual toda a espécie de fins tresanda, despropositadamente, a limites impostos, mesquinhez, prisão, toleima? Queremos ser mais respeitados e mais importantes, ou mais desconsiderados? Queremos tornar-nos tiranos, ou impostores? Pastores, ou carneiros? (...)
Violentamos a nós mesmos hoje em dia, não há dúvida, nós, tenazes, quebra-nozes da alma, questionadores e questionáveis, como se viver fosse apenas quebrar nozes; assim nos devemos tornar cada vez mais passíveis de questionamento, mais dignos de questionar, e assim mais dignos talvez – de viver? Todas as coisas boas foram um dia coisas ruins; cada pecado original tornou-se uma virtude original; os sentimentos brandos, benevolentes, indulgentes, compassivos – afinal de valor tão elevado, que se tornaram quase “os valores em si” – por longo tempo tiveram contra si precisamente o auto-desprezo: tinha-se vergonha da suavidade, como hoje se tem vergonha da dureza."
F.N., in 'A Vontade de Poder'
Nenhum comentário:
Postar um comentário