sexta-feira, 28 de maio de 2010

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ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
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Como toda a gente provavelmente o fez, jogara algumas vezes consigo mesmo, na adolescência, ao jogo do E se eu fosse cego, e chegara à conclusão, ao cabo de cinco minutos com os olhos fechados, de que a cegueira, sem dúvida alguma uma terrível desgraça, poderia, ainda assim, ser relativamente suportável se a vítima de tal infelicidade tivesse conservado uma lembrança suficiente, não só das cores, mas também das formas e dos planos, das superfícies e dos contornos, supondo, claro está, que a dita cegueira não fosse de nascença. Chegara mesmo ao ponto de pensar que a escuridão em que os cegos viviam não era, afinal, senão a simples ausência da luz, que o que chamamos cegueira era algo que se limitava a cobrir a aparência dos seres e das coisas, deixando-os intactos por trás do seu véu negro. Agora, pelo contrário, ei-lo que se encontrava mergulhado numa brancura tão luminosa, tão total, que devorava, mais do que absorvia, não só as cores, mas as próprias coisas e seres, tomando-os, por essa maneira, duplamente invisíveis.

José Saramago

quinta-feira, 27 de maio de 2010

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Á FLOR DA PELE
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"Admito que sinto uma certa inveja daquelas pessoas que são sensíveis mas não se tornam vítimas da própria emoção. Porque sensibilidade demais esgota a gente. Tem horas em que o filtro não filtra coisa nenhuma: permite que a gente seja atingido profundamente por coisas que mereceriam menos entrega. Cultivamos mágoas por coisas que nos aconteceram 15 anos atrás, remoemos culpas que já foram mais que perdoadas e esquecidas, temos nosso sistema nervoso totalmente abalado porque alguém compreendeu mal nossas palavras, sofremos por questões insolúveis, sofremos, sofremos, e sofrer dá uma senhora consistência à nossa vida, mas como cansa. Às vezes me farto dos ideais que persigo e que, por serem ideais, nunca se concretizarão plenamente. A vida é defeituosa, imprevisível, nada é exatamente como a gente gostaria que fosse - e sensibilidade é algo que faz a gente aceitar isso e ser feliz do mesmo jeito. Já sensibilidade demais dá nos nervos e fatiga à toa. Uma certa frieza nos faz andar mais rápido, não nos retém. Como se mede, se pesa, se percebe a sensibilidade suficiente e a sensibilidade excessiva? No quanto ela joga a nosso favor ou contra. Sensibilidade suficiente refina você, lhe dá um foco na vida. Já a sensibilidade excessiva faz de você protagonista de um dramalhão mexicano. Temos escolha? Não se escolhe, é o que se é. Os que são sensíveis na medida aproveitam a vida sem duras cobranças internas. Já a turma dos excessivos pega canetas, câmeras, pincéis, sapatilhas, instrumentos, e transforma o excesso em arte. Ou faz besteiras. Cada um encontra onde colocar sua sensibilidade, uns com leveza, outros com fartão de si mesmos. Os únicos que seguem não entendendo nada são os insensíveis."
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Martha Medeiros

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ladies and gentlemen of the class of '97:
WEAR SUNSCREEN
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If I could offer you only one tip for the future, sunscreen would be it. The long term benefits of sunscreen have been probed by scientists, whereas the rest of my advice has no basis more reliable than my own meandering experience. I will dispense this advice now. Enjoy the power and beauty of your youth. Oh, never mind. You will not understand the power and beauty of your youth until they've faded. But trust me, in 20 years, you'll look back at photos of yourself and recall in a way you can't grasp now how much possibility lay before you and how fabulous you really looked. You are not as fat as you can imagine. Don't worry about the future. Or worry, but know that worrying is as effective as trying to solve an algebra equation by chewing bubble gum. The real troubles in your life are apt to be things that never crossed your worried mind, the kind that blind side you at 4 pm on some idle Tuesday. Do one thing every day that scares you. Sing. Don't be reckless with other people's hearts. Don't put up with people who are reckless with yours. Floss. Don't waste your time on jealousy. Sometimes you're ahead, sometimes you're behind. The race is long and, in the end, it's only with yourself. Remember compliments you receive. Forget the insults. If you succeed in doing this, tell me how. Keep your old love letters.Throw away your old bank statements. Stretch. Don't feel guilty if you don't know what to do with your life. The most interesting people I know didn't know at 22 what they wanted to do with their lives. Some of the most interesting 40-year-olds I know still don't know. Get plenty of calcium. Be kind to your knees. You'll miss them when they're gone. Maybe you'll marry, maybe you won't. Maybe you'll have children, maybe you won't. Maybe you'll divorce at 40, maybe you'll dance the funky chicken on your 75th wedding anniversary. Whatever you do, don't congratulate yourself too much, or berate yourself either. Your choices are half chance. So are everybody else's. Enjoy your body. Use it every way you can. Don't be afraid of it or of what other other people think of it. It's the greatest instrument you'll ever own. Dance, even if you have nowhere to do it but your living room. Read the directions, even if you don't follow them. Do not read beauty magazines. They will only make you feel ugly. Get to know your parents. You never know when they'll be gone for good. Be nice to your siblings. They're your best link to your past and the people most likely to stick with you in the future. Understand that friends come and go, but with a precious few you should hold on. Work hard to bridge the gaps in geography and lifestyle, because the older you get, the more you need the people who knew you when you were young. Live in New York City once, but leave before it makes you hard. Live in Northern California once, but leave before it makes you soft. Travel. Accept certain inalienable truths: Prices will rise. Politicians will philander. You, too, will get old. And then you do you'll fantasize that when you were young, prices were reasonable, politicians were noble, and children respected their elders. Respect your elders. Don't expect anyone else to support you. Maybe you have a trust fund. Maybe you'll have a wealthy spouse. But you never know when either one might run out. Don't mess too much with your hair or by the time you're 40 it will look like 85. Be careful whose advice you buy, but be patient with those who supply it. Advice is a form of nostalgia. Dispensing it is a way of fishing the past from the disposal, wiping it off, painting over the ugly parts and recycling it for more that it's worth. But trust me on the sunscreen.

terça-feira, 18 de maio de 2010

FRASES SOLTAS E METÁFORAS

Longe, perto...distante. Tudo muito distante. Possibilidades estão por aqui, mas os sentimentos estão dormindo, dormindo, dormindo e o despertador ficou sem bateria. Só a vida rodando, girando, tontura, mas de vez em quando é ruim, de vez em quando é bom. De vez em sempre simplesmente é...e o ser é talvez não melhor, nem pior. Uma garrafa cheia até a borda não precisa de mais nada. Só esperar até alguém ter sede, mas talvez também esperar ter vontade de matar a sede de alguém. A loucura não é o que pensamos ser. A loucura é mais do que a razão, a loucura é tudo ao mesmo tempo em que é nada e compreende a grandiosidade do vazio. Dentro, dentro, dentro. Aprende, aprende, aprende... há momentos em que tudo está cheio e não há lugar para mais nada. Forçar faz quebrar e quebrar raramente é bom. O remendo nunca é tão bom quanto o que existiu a princípio.

domingo, 16 de maio de 2010




"Eu posso quase tudo. Ontem me dei conta disso. Tudo que eu quiser ou me permitir. E eu consigo tudo que eu quero, se realmente quiser. Tem gente que não consegue escrever porque os outros vão falar. Que não pode se tatuar porque vai atrapalhar. Que não pode viajar longamente porque o trabalho não deixa. Que não pode sair na rua sem alguém apontar. Eu faço o que eu faço em qualquer lugar, eu sou eu em qualquer lugar e isso me traz um alento e um alívio por eu não ser escrava de nada, empregada de nada,coisa nenhuma. Alguns amigos acham que eu deveria ceder mais. Que eu deveria ter essa ou aquela experiência que melhoraria isto ou aquilo. E eu digo, eu estou bem assim, sem ceder. Eu vou arrumando uns caminhos tortos pra viver a minha vida e consigo passar por quase tudo. Às vezes eu empaco, mas que se foda. Às vezes batem a porta na minha cara, mas que se dane. Eu continuo fazendo as coisas do meu jeito. Que é o único jeito que funciona pra mim. Respeito todo mundo que faz de outro jeito. Respeito todas as escolhas de todo mundo. Mas não queiram que eu faça essas escolhas também. Eu faço o meu trabalho do meu jeito porque é assim que tem que ser. Eu vivo uma vida torta. Mas é assim que eu sei viver. Se fizesse de outro jeito ia perder a alma. Eu sonho porque eu gosto e preciso. E não vou parar de sonhar. Eu escuto as minhas músicas porque elas me dizem o que eu quero ouvir, ou o que eu preciso ouvir, e eu não quero ninguém me enchendo o saco por isso. Eu reclamo pra caralho. Eu sou terrivelmente apaixonada por um abraço. Eu gosto de solidão mas prefiro a sua mão, gosto do silêncio e preciso disso pra sobreviver. E é assim que é, assim que vai ser. Do meu jeito. Que é o jeito que eu sei fazer."
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CLARAH AVERBUCK

sábado, 15 de maio de 2010

Ás de Espadas
Rompendo com a estagnação
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É chegado o momento, de romper com a estagnação. O Ás de Espadas transborda como arcano de conselho para você, hoje, sugerindo que você corte implacavelmente todas as coisas, pensamentos, hábitos e pessoas que não lhe servem mais e que procure sustentar seus pensamentos e opiniões, mesmo que isso signifique desencadear antipatia nos outros. Este é um momento de renovação em sua vida, de idéias novas que fervilham e você poderá tomar as iniciativas que tirarão sua existência da rotina e do tédio. Prepare-se para uma nova e deliciosa aventura e não se preocupe tanto em ter uma “personalidade simpática” nesta fase de sua vida. Há momentos em que a atitude mais sedutora é aquela que não prima pela docilidade, mas que se compromete com a verdade. É quando sabemos que não estamos sendo simpáticos, mas estamos sendo honestos. Ainda que não agrademos, não há como negar o notável poder sedutor da pessoa que age com integridade – mesmo quando age de uma forma superficialmente antipática.

Conselho: Ser fiel à verdade gera antipatias, mas muitas vezes é fundamental!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

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AMANHÃ
"Você só precisa continuar correndo, não precisa chegar em primeiro"
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***"A vida passa correndo e mesmo aqueles com a visão mais aguçada não a enxergam. A Terra continua girando como sempre girou, então dificilmente o dia terá mais de vinte e quatro horas. Esta é uma das coisas que não deve mudar no tão falado e, talvez temido, futuro. O Sol continua do mesmo tamanho, mas a Terra deverá ter sua temperatura média aumentada. O céu continuará sendo um mistério para muitos, e apenas azul com bolinhas de algodão para as crianças. Seu cachorro será seu melhor amigo, mesmo amanhã. Aquele menino não vai te dar bola hoje, e provavelmente vai namorar a menina mais bonita do colégio. Quando ele crescer, ele vai cruzar com você na rua, sorrir, e depois que você passar por ele, ele vai olhar para trás suspirando. Cléber não é tão charmoso, mas foi com quem você se casou, mesmo não adorando o nome dele. Confessa que é feliz e que a falta de um George Clooney na sua vida não afeta em nada, afinal, a última vez que você chorou por ele, foi quando rasgou aquele último poster que estava na sua parede.
***Amanhã não é hoje, e é por falta dessa constatação que não fazemos muitas das coisas que deveríamos fazer, porque as deixamos para o futuro. Se estiver muito difícil de entender que o futuro já chegou amanhã, repita isso para si quantas vezes for necessário. Se quiser fazer em frente ao espelho, corra, garanto que ganhará um tom dramático. Acredito nisso. Os alunos de Harvard, mais do que considerados inteligentes, são disciplinados. Eles fazem as mesmas coisas milhões de vezes. Lêem o mesmo texto vinte vezes. E garanto, eles são feitos da mesma matéria que você, células.Há menos diferenças entre vocês do que você imagina.
***Você criou seus filhos com o Cléber e nunca pulou um domingo de almoço na casa de sua mãe, a vovó coruja das crianças. Há diversos porta-retratos em todos os cômodos da casa, que é quase igual a casa dos seus sonhos. Ontem você e Cléber decidiram se separar, ou melhor, ele resolveu sair de casa. O mundo desmoronou e pular da janela parece a coisa mais esperta para ser feita. Porém, você tem dois filhos que amanhã apresentam uma peça de teatro e um espetáculo de jazz na escola. Faz três semanas que eles só falam disso. Você vai. É melhor deixar a janela fechada e ir para frente do espelho se enxergar. Você é você, suas rugas permanecem e a hidratação que você fez nos cabelos, ainda os deixam brilhantes. O Cléber está longe, e o Jornal Nacional continua entrando no ar no mesmo horário.
***Amanhã seu dia será bem diferente e você ficará impressionada como conseguiu dormir sem calmantes. As apresentações dos seus filhos vão acontecer e se eles perguntarem do papai, ainda dá pra dizer que ele ficou preso no trabalho. Talvez neste futuro tão próximo que parece hoje, você vá enfrentar a situação mais difícil de todos os tempos, explicar o divórcio para seus filhos. Lembra quando você teve que entrevistar o presidente de uma empresa, com 22 anos, em francês? Você não falava a língua e deu tudo certo. Achava que já tinha passado pelo pior dos mundos. Hoje você percebe que sempre pode piorar um pouco, mas calma, pode dar certo de novo. Talvez você se surpreenda com a esperteza dos seus filhos.
Se tudo der errado, acredite que você está com a maioria. Bill Gates pode errar menos do que você. E o erro dele ainda sai na capa de todas as revistas. Continue achando que sair para tomar ar fresco é algo que clareia suas idéias, quem sabe você não tromba com alguém interessante durante sua caminhada na praça? Vai ver que tem um João esperando por você. Engraçado como você sempre gostou deste nome, até suas bonecas se chamavam João. Não tinha ninguém na família com este nome, até nascer seu filho.
***Não tenha medo do futuro. Ele só é amanhã. Você sabe exatamente quanto tempo demora para ele chegar. 24 horas. Passou seus 38 anos programando sua vida dentro deste mesmo tempo. Você tira de letra. Quando estiver exausta, pense naquele rapaz de Harvard, que também está cansado de resolver um case por semana e ter que ser o número um. Você só precisa continuar correndo, não precisa chegar em primeiro."
L. Rudge


1. não importa o quanto as coisas pareçam estar difíceis,
elas sempre podem piorar.
2. mesmo que as coisas pareçam insuportáveis (e mesmo que elas piorem), um dia tudo irá se resolver e você irá perceber que sim, você era capaz de superar isso.

terça-feira, 11 de maio de 2010

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Something’s missing.

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Estamos na era do fast-food e da digestão lenta, do homem grande de caráter pequeno, lucros acentuados e relações vazias. Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas chiques e lares despedaçados. Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas 'mágicas'.
Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na dispensa.
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quinta-feira, 6 de maio de 2010

METADE



Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas, como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço.

E que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também.
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Ferreira Gullar

domingo, 2 de maio de 2010

D. Quixote


Porque sou, como diz a canção, o cavaleiro andante que mora no teu livro de aventuras, podes vir chorar no meu peito, pois, sabes sempre onde estou. E porque me imagino esse cavaleiro andante, finjo que não preciso do que me faz falta para te levar para longe de tudo o que é mau. E enquanto choras no meu peito, pedes-me a paz e eu quero dar-te o mundo porque a solidão é dura e o Amor um fogo que a saudade não segura e a razão não serena. Deixa-me embrulhar-te o corpo nos dias em que, fraco de lutar, te apetece ser criança e ouvir histórias que te façam feliz. Porque sou o cavaleiro andante, quero ser o teu respirar nas horas em que o vento frio te navega a alma e te transforma as noites em madrugadas de cristal. No teu livro de desventuras encontrarás sempre o chão seguro que te estendo sem precisares de quebrar o silêncio.



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No fundo, a maior parte dos mortais não tem a menor ideia do seu propósito de vida. Não prestamos atenção ao ar que respiramos, às batidas do coração, até que um tipo de emoção diferente nos invada. Adoecemos porque não nos tornamos presentes a nós mesmos. Agimos com um eterno “deixar para depois”, sempre na expectativa de que o organismo terminará por resolver uma situação que não conseguimos compreender.
A deflexão é a inimiga número um da auto-regulação.
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